Quando Janja criticou Elon Musk, até Lula tentou amenizar 5l2s1u

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A questão que fica no ar é: quem saiu mais desgastado, quem ofendeu ou o ofendido? Cada episódio de crítica pública, especialmente em tempos digitais, expõe mais quem fala do que sobre quem se fala

  • Por Reinaldo Polito
  • 29/05/2025 05h59
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ALEXANDRE DE JESUS/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, durante cerimônia de inauguração do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Híbrida Flex e anúncio de contratações da Stellantis Lula tentou amenizar a situação embate entre a primeira-dama e magnata teve repercussão internacional

Ariano Suassuna, com sua veia humorística inconfundível, nos deixou uma pérola: “Eu acho que é uma falta de educação muito grande. Não é? Falar, falar mal pela frente constrange quem ouve, constrange quem fala. Não custa nada a gente esperar um pouco as pessoas darem as costas”.

Um ensinamento atribuído a Sigmund Freud afirma que vale mais observar quem critica do que quem é criticado. “Quando Pedro fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.” Ao apontar o dedo para criticar, ou aveludar a voz para elogiar, como disse Suassuna, pelas costas, a pessoa mostra a sua verdadeira face.

Desde que o mundo é mundo, a vida política e corporativa vive infestada de comentários maledicentes. Em alguns casos, agem assim por inveja, em outros por fraqueza ou insegurança, e até por ingenuidade. Por um ou outro motivo, a reputação de quem tem esse condenável hábito acaba por prejudicar mais a sua própria imagem que a do ofendido.

Cada um que cuide do seu morto q2k3o

Todos nós precisamos ficar atentos para evitar essa tendência humana de destacar falhas ou defeitos nos outros. Um dos autores que mais aprecio é Manuel Bernardes, um dos maiores pregadores da história. Em certo momento, ele discorre a respeito do “conhecimento próprio”. Suas reflexões são profundas e carregadas de sabedoria:

“Perguntado um santo monge que remédio pronto haveria para expelir os pensamentos de julgar as faltas alheias, respondeu: quando o anjo precursor matou em uma noite os primogênitos do Egito, cada família tinha o seu morto em casa, e a esse lamentava, sem atender à desgraça de seus vizinhos. Cuide, pois, cada um de si e lamente o seu morto, e deixará de cuidar nos outros.”

Sim, se cada um de nós cuidar dos próprios problemas, que borbulham em abundância, já seria uma atitude louvável na busca do bom comportamento. Suassuna usou o humor e o sarcasmo para transmitir uma importante mensagem: críticas feitas na penumbra, nos cantos sombrios, distantes do criticado, podem ser consideradas covardes. Se o criticado estivesse participando da conversa, será que o crítico teria coragem de proferir as mesmas palavras?

Quem se prejudica mais? 3h2i62

As críticas e xingamentos não se circunscrevem mais ao momento e à circunstância. Quando Janja, por exemplo, xingou Elon Musk, a repercussão foi internacional. Até Lula tentou amenizar a situação. A questão que fica no ar é: quem saiu mais desgastado, quem ofendeu ou o ofendido? Cada episódio de crítica pública, especialmente em tempos digitais, expõe mais quem fala do que sobre quem se fala.

E ainda reverberando a brincadeira do escritor paraibano, críticas sem filtro, diretas, quase sempre agridem, desqualificam, diminuem as pessoas e criam mal-estar. Flávio Gikovate dizia que há diversos tipos de críticos.

Críticos para todos os gostos 19115u

Um deles é o radical. Para essas pessoas, ou alguém está certo ou está errado, não existe espaço cinza. Ressalvava que esses indivíduos não são necessariamente maldosos, mas não item falhas, como se todos os seres humanos devessem ser perfeitos. Não escolhem vítimas, pois criticam familiares, colegas de trabalho e amigos.

Às vezes, é preciso criticar 4e353q

Há aqueles que se julgam acima do bem e do mal. Suas críticas têm como objetivo menosprezar as pessoas. Só se sentem bem quando conseguem inferiorizar os alvos de suas críticas. São vaidosos, petulantes, orgulhosos. Sentem enorme satisfação em demonstrar conhecimento.

Gikovate indica as situações em que a crítica se justifica: quando alguém pede ajuda para corrigir suas falhas, e nos casos em que a função hierárquica, por obrigação profissional, exige esse tipo de atitude. Cabe a um gestor, por exemplo, corrigir comportamentos e atitudes para atingir os resultados desejados. Os mestres também recebem essa carta branca, pois para ensinar quase sempre precisam mostrar o bom caminho aos seus alunos e afastar os erros e equívocos.

Podemos aprender com as críticas 4r1i5t

Mesmo nesses casos, a crítica não pode ser agressiva e precisa se basear em fundamentos sólidos. Afora essas exceções, as críticas devem ser evitadas, pois fazem mal aos relacionamentos e prejudicam a autoestima.

Se, todavia, devemos aprender a não ofender com comentários desairosos, precisamos também saber como receber uma crítica. Ainda que seja ofensiva ou maldosa, temos de avaliar se poderíamos aproveitar o comentário para o nosso aperfeiçoamento e crescimento. Não é fácil agir corretamente, nem ao criticar, nem ao receber críticas. Mas com disciplina e boa vontade, vamos nos aprimorando a cada dia. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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